
Introdução
"E desde tempos imemoriais, o homem tem com a argila um sentimento de atração e de posse. [...]”
“[...] Como se a ele estivesse reservada a função de co-autor de um mundo que se antecipa mágico na plasticidade do material e com o qual ele vai dialogar pela vida afora.”
A manipulação da argila já está diretamente relacionada com a história e evolução da humanidade. Desde a pré-história, nossos ancestrais conhecem as propriedades desse material, e exploravam suas capacidades para produção de cerâmicas, sejam elas funcionais ou decorativas - ou ambas.
Registros das mais antigas cerâmicas remontam a 14.000 anos AC, no Japão. Isso reforça a ideia de que a prática e técnica de moldar e secar a argila evoluíram junto com a existência da nossa consciência como humanos.
Além de cerâmica e utensílios, tábuas de argila são conhecidos como as primeiras mídias de escrita, possibilitando a formação da escrita cuneiforme, plenamente adaptada para o material de trabalho.
Há também indícios de um tipo específico de argila usado antigamente para acalmar estômagos irritados.A argila é um dos materiais de construção mais antigos usados pelos homens, e sua história se confunde com a nossa. O fato dessa prática ter sobrevivido e se adaptado até os dias de hoje é considerável, e digno de estudos aprofundados.
Moita Redonda
"A produção de cerâmica na região começou séculos atrás e é passada de geração a geração nas famílias da área."
A cidade de Cascavel possui um dos maiores polos de produção do artesanato com barro do estado do Ceará. Em Moita Redonda, uma região mais afastada do centro da cidade marcada por precariedades como falta de água encanada, ruas asfaltadas e sinalização, aproximadamente 90% da população vive da produção de objetos de barro, sendo assim considerada uma atividade de subsistência.
A produção de cerâmica na região começou séculos atrás e é passada de geração a geração nas famílias da área. Devido as condições de vida precárias que a maioria da população vivia, havia a necessidade de produzir potes para armazenar água e cozinhar alimentos e em consequência da abundância de rios na área, o barro mostrou-se a melhor opção de matéria-prima para a manufatura desses objetos.
Grupo Uirapuru
Orquestra de barro
A população de Moita Redonda possui poucos recursos financeiros, o que faz com que as novas gerações expressem menos interesse em trabalhar com a cerâmica, pois temem continuar com renda baixa e porque não querem viver da produção de panelas e potes. Por esse motivo, Tércio Araripe criou o Grupo Uirapuru, orquestra com instrumentos feitos principalmente/majoritariamente de barro/cerâmica, tentando estimular o interesse e despertar um olhar diferenciado dos jovens sobre esse material. Além do estimulo à aprendizagem musical, há o estimulo a produção de figurinos e cenários.
“Se não houver um interesse das novas gerações em dar continuidade à tradição, daqui uns 20 ou 30 anos não haverá mais nada de barro na comunidade, pois a tradição vem se perdendo, mas é possível acompanhar a modernidade sem esquecer nossas raízes, acredito que é possível abrir um novo leque de possibilidades de formação para os jovens com o barro.”
O artista plástico e luthier Tércio Araripe mudou-se para a região de Moita Redonda em 2006. Em 2007, criou o Grupo Uirapuru Orquestra de Barro. Até 2008, a orquestra era formada basicamente por instrumentos de percussão (tambores). A partir desse ano, começaram a ser produzidos instrumentos de cordas e sopros, sendo o som dos instrumentos escolhidos por meio da experimentação a partir da forma da modelagem da cerâmica.
Para a produção dos instrumentos, o barro é recolhido do Rio Malcozinhado, situado nas redondezas da região, é exposto ao sol para secar, em seguida é quebrado e depois molhado para amolecer e formar argila. Cordas, ferros e pele de tambor são comprados no mercado da região ou na capital (Fortaleza), sendo o processo de produção de um instrumento o tempo de aproximadamente 10 dias e tendo principalmente mão-de-obra feminina.
O traçado presente nas peças, característico da cerâmica de Moita Redonda, é feito a partir do Toá, pigmento extraído de um químico do barro, e representa desde folhas de cajueiro a ondas do mar.
Sobre questões financeiras: O grupo ainda não consegue vender muitos instrumentos porque o processo de produção é demorado e os instrumentos que eles possuem são usados na orquestra. Tércio deseja fazer um projeto para gerar renda, oferecendo emprego aos jovens, porque esses apresentariam maior interesse. O projeto, porém, sobrevive da verba de concursos/editais de cultura do governo, o que limita muito suas ações. Tércio tem um produtor que ajuda a organizar questões de gerenciamento e marketing.
Deca
Potes, vasos e peças decorativas
Mestre Deca, um senhor de 70 anos que mora e trabalha na região, começou a trabalhar com a cerâmica aos 10 anos de idade, aprendendo o ofício com seus pais, e passa até 12 horas por dia trabalhando. Dos seus filhos, apenas duas filhas ainda trabalham com a cerâmica. Seus outros dois filhos abandonaram a profissão do pai em busca de melhores condições de vida em Fortaleza, assim como seus irmãos, um morando em Fortaleza e o outro em São Paulo.
O Mestre utiliza dois tipos de barro, o preto e o roxo, provindos de Beberibe, do distrito de Guarnacés (na cidade de Cascavel) e de Quixadá, tendo que ser misturados nas proporções certas para alcançar a consistência ideal. De início, eram produzidas peças mais tradicionais, características da região, como vasos e panelas, porém, devido a demanda externa, a produção de peças decorativas, como animais e cogumelos, acabou por sobressair-se.
O processo de produção do Mestre começa com o barro sendo quebrado. Após isso, ele é molhado para amolecer e passado em uma maromba, máquina onde são misturados diferentes tipos de argila e retirado as bolhas, duas vezes. A partir disso, as peças começam a tomar forma usando-se facas, canos e panos para dar acabamento, são levadas ao forno, por até 10 horas, e por último, pintando as que se desejarem. Algumas peças maiores, que chegam a 1,20 metros e aproximadamente 100 kg, podem levar até um dia de trabalho, tendo que ser "levantadas" (termo usado pelo Mestre para modelagem) por partes e sendo depois emendadas.
Ao ser perguntado se há ajuda do Estado, Mestre Deca respondeu que não. Ele afirma que já houve um curso para que aprendessem os ornamentos tradicionais da cerâmica, contudo, a pessoa responsável por ministrá-lo não possuía nenhum tipo de conhecimento sobre o trabalho a ser ensinado, tendo o Mestre, inclusive, ensinado-lhe algumas coisas relacionadas a cerâmica.
Rota do Caminho do Barro
Com o apoio da Secretaria de Turismo e Cultura de Cascavel e do Instituto Beija-Flor, uma ONG voltada a promover iniciativas de valorização dos laços de cultura locais, foi inaugurado, em 2013, a Rota do Caminho do Barro, um percurso turístico voltado a experiências terapêuticas relacionadas ao barro. O incentivo para a criação da Rota veio do Programa Ponto de Memória do Instituto Brasileiro de Museu (IBRAM/MINC), na qual o Instituto Beija-Flor foi beneficiado naquele ano.
Os visitantes interessados teriam acesso aos 48 atelies mapeados pelo Instituto, além de outros mestres e mestras do barro.
Durante o percurso é desenvolvido atividades terapêuticas, que fortalecessem a história da comunidade da região, com o contato com o barro e até modelagem. Ademais, ocorre a capacitação de jovens da área, para que possam acompanhar as pessoas e apresentar a região e o artesanato do seu povo.
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